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Com representatividade e força ancestral em cada peça, artesanato movimenta economia na Central do Marabaixo

Empreendedores aproveitaram o 2º dia do Ciclo do Marabaixo também na gastronomia.

Por Marcelle Corrêa
02/04/2023 10h00

Bonecas marabaixeiras da Maria Odaléia, conhecida como Dadá

Os visitantes da Central do Marabaixo, instalada pelo Governo do Amapá, no Centro de Cultura Negra Raimundinha Ramos, no bairro do Laguinho, em Macapá, têm a oportunidade de fazer um mergulho na ancestralidade traduzida em bonecas de pano, roupas e muitos acessórios presentes na Feira Afro-Empreendedora e Quilombola.

A programação faz parte da abertura do Ciclo do Marabaixo 2023, que iniciou na sexta-feira, 31, e segue até este domingo, 2 de abril. O espaço vai muito além de apenas gerar uma renda extra para os artesãos. As histórias enraizadas em cada costura, em cada semente utilizada para dar forma a uma peça, torna tudo único nas mãos dessas pessoas.

Um exemplo são as bonecas marabaixeiras da Maria Odaléia, conhecida como "Dadá". Já são mais de 20 anos produzindo as peças, e como ela fez questão de reforçar, cada boneca que o cliente leva para casa, vai junto um pouquinho da história de vida dela.

A artesã conta que a primeira boneca surgiu após observar a avó dela, Ana Nunes, dançar o marabaixo, quando ainda morava em Mazagão Velho. Emocionada, Dadá lembra o exemplo de mulher forte que a avó representava, sendo a parteira da região, e que a trouxe ao mundo.

"Iniciei fazendo artesanato em gesso, muitas imagens de santo, e certa vez, observei minha vó dançando marabaixo, como se movia com alegria, então comecei a criar as bonecas marabaixeiras. Minha inspiração foi minha avó e lembrar dela me emociona muito. Ela era descendente de escravos e sofreu muito racismo e, mesmo assim, não carregava a dor com ela”, lembrou com lágrimas nos olhos, a artesã.


Para Dadá, trazer esses elementos carregados de sentimentos para a feira, e repassar um pouco desse amor a outras pessoas é uma forma de respeito à cultura e uma oportunidade para levar para casa um dinheiro a mais.

"Tudo isso aqui é maravilhoso, uma forma, um incentivo para não deixar nossa cultura morrer. Queremos sempre que o marabaixo esteja na frente, de geração em geração. Nosso povo sabe fazer todos os tipos de artesanato. Aqui na feira temos tanta variedade de artesanato, peças que nossas mãos criam", reforçou.


As culturas também se encontram na Feira Afro-Empreendedora e Quilombola. A Geraldina Labonte, indígena da etnia Palikur, veio do município de Oiapoque, distante cerca de 580 quilômetros da capital, para expor as peças que ela faz com as sementes da floresta, entre elas a tento e a maramará, que pela criatividade da Geraldina se transformam em colares e brincos. As peças trazem a riqueza das vivências dos antepassados da artesã.

Ela conta que, há 40 anos, quando criança na aldeia Kumenê, a avó a ensinava a colher as sementes na floresta Amazônica para produzir os colares e outras peças.

E cada acessório chama a atenção pela variedade de material e cores. A semente de tento, por exemplo, é encontrada na forma bicolor, preta e vermelha e tem a que é totalmente preta. Entre o colorido dos colares tem também as sementes do açaí e as miçangas.

"Eu agradeço muito a minha vó que me ensinou esse artesanato quando eu era criança na aldeia. Ela me chamava para ajudar e fui aprendendo com ela. Hoje já passei esse conhecimento para minha filha que tá aqui me ajudando a vender”, contou Geraldina.


A filha dela, a Dilza Labonte Orlando está feliz com as vendas. Ela conta satisfeita que desde a sexta-feira, 31, a comercialização dos objetos têm sido muito boas.

"Estamos vendendo muito. A feira está ajudando bastante a minha mãe. É uma oportunidade pra gente mostrar nosso artesanato, nossa cultura e divulgar o trabalho das mulheres indígenas, mostrar para as pessoas daqui e também para as que moram fora do Amapá. É tão bonito estar aqui, porque somos uma mistura de etnias. O governador Clécio [Luis] no discurso dele citou os quilombos, os indígenas e falou de Oiapoque. Estamos muitos felizes”, descreveu Dilza.


Comida variada
E essa combinação de pessoas também está presente na gastronomia. Além do guizado de porco, do "cozidão" de carne e da gengibirra servidos aos visitantes, no setor de alimentação tem comida para todos os gostos.

Entre essas comidas, não podia faltar o tradicional espetinho. A Sônia Maria Duarte é moradora do Laguinho e aproveitou a festa para garantir um dinheiro a mais para as despesas do dia-a-dia.

"A gente não pode perder tempo e pra nós que trabalhamos de maneira autônoma, estar aqui é muito bom. É muito importante o Governo trazer e fortalecer essa oportunidade aqui para o nosso bairro Laguinho, para podermos trabalhar", disse Sônia.


Para a professora Ronira Gomes, que mora há 2 anos no Laguinho, a festa mostra a força da tradição do bairro e da cultura marabaixeira do estado.

"Que movimentação boa, desde a parte do artesanato até a comida e bebida. A festividade anima a comunidade 'laguinense', movimenta a economia. Incentiva as crianças a terem curiosidade em aprender sobre a nossa cultura. As pessoas estão participando, comprando. Esse investimento do Governo do Estado com Central do Marabaixo atraiu muito público, inclusive a vizinhança, todos estão vindo prestigiar a nossa comunidade", comemorou Ronira.


Ciclo do Marabaixo
Após a abertura, a programação oficial do Ciclo do Marabaixo inicia no dia 8 de abril, no Sábado de Aleluia, e encerra em 11 de junho, no chamado Domingo do Senhor, primeiro domingo após a celebração de Corpus Christi.

No sentido de fortalecer e preservar a tradição, o Governo do Estado é o principal apoiador do evento, por meio da Secretaria de Estado da Cultura (Secult) e da Fundação Estadual de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Fundação Marabaixo).

O período é marcado pelo culto ao Divino Espírito Santo e à Santíssima Trindade e por rituais como a retirada dos mastros pelos grupos nas matas do quilombo do Curiaú, levantamento dos mastros nos barracões, quebra da murta, ladainhas, missas e as tradicionais rodas de Marabaixo.

A manifestação cultural afro-amapaense é reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

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