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DEVOÇÃO TRADICIONAL

Fé, cultura e emoção marcam a 'Batalha entre Mouros e Cristãos' na Festa de São Tiago, em Mazagão

Ao todo as interpretações tiveram sete episódios cheias de interação com o público.

Por Weverton Façanha
26/07/2024 12h59

Encenação da batalha entre Mouros e Cristãos acontece há 247 anos, na cidade de Mazagão Velho.Em um grande teatro a céu aberto, a batalha entre Mouros e Cristãos apresentou-se com várias fases, em contextos históricos diferentes. A comunidade de Mazagão Velho acompanhou o ponto áureo da luta entre os dois povos, na quinta-feira, 25. A programação promovida pela população há 247 anos conta com apoio do Governo do Amapá.

Visitantes e moradores viram de perto as passagens do 'bobo velho', espião mouro e o arauto, que aos sons e toques das caixas anunciaram que tudo estava pronto para a tão descrita guerra. Neste ano, o personagem Atalaia, um dos personagens principais, foi representado pelo cavaleiro João Videira, de 31 anos.

“É inexplicável os momentos que vive nestes dias e posso dizer que é uma felicidade, mas também uma responsabilidade enorme, respeito, gratidão e agora satisfação. Foi um dos melhores momentos da minha vida”, enfatizou Videira.

Figura do Atalaia, João Videira A encenação, que iniciou na quarta-feira, 24, começou com a entrega dos presentes, que representam o momento em que os mouros pedem uma trégua na batalha que travavam contra os cristãos. A estratégia era selar a selar a paz com o inimigo. Mas, na verdade, os presentes eram comidas envenenadas. 

As representações contam com o envio dos espiões Bobo Velho (mouro) e Atalaia (Cristão), que se apresentam como idealizadores de planos estratégicos para a batalha. O atalaia foi enviado ao campo mouro e acaba morto durante a missão, mas consegue roubar o estandarte dos mouros dando início aos confrontos.

Mouros mascaradosAo todo as interpretações apresentaram sete episódios e um deles mostra que por ordem do Rei Caldeirinha (mouro), as crianças cristãs são roubadas e vendidas, para que o dinheiro arrecadado seja usado na compra de armas e munições. Neste momento personagens mascarados interagem com a plateia e várias crianças participam do ato teatral.

“Fazer essa interação é legal porque o povo participa e sabemos que algumas crianças se assustam com as mascaras e roupas, mas tudo é uma brincadeira”, destacou um dos mascarados, que faz parte do exercito Mouro, José Tiago Santos.

José Tiago, mascarado no rapto e venda das crianças Após, perceberem o roubo das crianças, os cristãos iniciam uma batalha intensa entre os cavaleiros combatentes, com perdas de ambos os lados. Neste momento diversos personagens as vezes poucos citados encenam as batalhas como é o caso do cavaleiro cristão, João Paulo Lobato, que enalteceu a alegria em participar do evento.

“Para mim é uma grande emoção participar desta programação e as vezes chegamos a chorar de alegria por representar o povo de Mazagão nesta festa. Já participo há mais de 10 anos, mas é sempre como se fosse a primeira vez”, declarou Lobato.

Figura do exercito cristão, João Paulo LobatoCom o desenrolar as encenações, chega a um momento que o Rei Caldeirinha, planeja o retorno da bandeira ao campo Mouro e propõe uma troca: o corpo do Atalaia pelo símbolo mouro. Os cristãos aceitam, recebendo o corpo do companheiro, mas, não devolvem a bandeira e mais batalhas ocorrem em frente a Igreja de Nossa Senhora de Assunção. 

Como os guerreiros cristãos não devolvem a bandeira moura, a batalha recomeça e segundo contam, Deus os ajudou prolongando o dia, assim os cristãos conseguiram vencer as batalhas até aprisionar o rei.

Para comemorar, os cristãos organizam o baile do vominê, uma dança típica da festa é que tem um significado de vitória, trazendo um sentido lúdico, de brincadeira. Por fim, as figuras de São Tiago e São Jorge aparecem selando a vitória dos cristãos.

“Estou realizado. Foi uma grande honra e uma emoção indescritível interpretar São Tiago. Eu não tenho palavras suficientes para descrever esse sentimento”, descreveu após a batalha, Admilson Pimentel, que interpretou São Tiago na festividade. Admilson Pimentel (verde), representou a figura de São Tiago

Tradição que veio da África

Trazida da África no século 18, a Festa de São Tiago remonta à fundação da Vila de Mazagão Velho pela Coroa Portuguesa, no ano de 1770. Atualmente, a tradição movimenta a comunidade em 12 dias de programação, que inclui a parte religiosa, cultural, e atrações artísticas no balneário às margens do rio Mutuacá.

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