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'Cantem alto, cantem forte. Afinal, o Samba 15 nada mais é do que um hino', diz o compositor amapaense Joãozinho Gomes, finalista na Mangueira

Com versos nascidos em Macapá e inspirado no enredo sobre Mestre Sacaca, a obra promete emocionar a comunidade e reforçar a identidade tucuju na avenida.

Por Leidiane Lamarão
26/09/2025 11h30
Compositores do samba 15, com o Mestre Sacaca

O Samba 15 está entre os finalistas da Estação Primeira de Mangueira e vai disputar, no próximo sábado, 27, na quadra da escola de samba carioca, a chance de se tornar o hino oficial da Verde e Rosa no Carnaval 2026.

A composição nasceu de uma inspiração que foi além das páginas da sinopse. Para o compositor amapaense Joãozinho Gomes, a criação exigiu mais do que atenção ao enredo: foi necessário encontrar a poesia capaz de dar vida ao tema.

“O processo de criação começou com a busca por um caminho que pudesse transformar o enredo em poesia. Embora houvesse uma rica sinopse, nós buscamos enriquecê-la ainda mais, porque o enredo abrange um universo enorme. O desejo de desenvolvê-lo com afinco foi a nossa inspiração”, explicou o compositor.

Para ele, participar da disputa não foi apenas uma decisão artística, mas quase um dever. Poeta e compositor, com 95% da obra construída a partir das peculiaridades do Amapá, ele destaca que a homenagem da Mangueira ao estado, com o enredo “Mestre Sacaca do Encanto Tucuju – O Guardião da Amazônia Negra”, o convocava de forma natural.

“Não é uma ideia, é uma obrigação”, resume.

A escolha de Mestre Sacaca como fio condutor do enredo também chamou atenção.

“Foi uma escolha justa. Ele é o ser condutor que nos guia nessa fantástica epopeia com a qual a Mangueira homenageia o Amapá”, afirmou.

O primeiro verso do Samba 15 nasceu em um domingo ensolarado, em Macapá, na casa da cantora Patrícia Bastos, uma das parceiras da obra. Foi ali que os seis compositores — ele, Pedro Terra, Thomaz Miranda, Paulo César Feital, Herval Neto e Igor Leal — encontraram o caminho para a melodia e os versos iniciais:

“Finquei minha raiz no extremo norte, onde começa o meu país…”

A criação, segundo ele, foi marcada pela leveza da convivência:

“A integração com meus parceiros foi tranquila, cheia de generosidade. São pessoas leves, inteligentes, talentosas e amorosas. Conviver com pessoas assim é dádiva — tudo flui”, pontoou.

Apesar da experiência do grupo, o processo incluiu a produção de muitos versos e melodias que acabaram sendo descartados.

“O material daria até para fazer outro samba”, brinca Joãozinho Gomes.

De acordo com ele, se não houve dificuldades, também não houve um único trecho considerado mais forte que outro.

“Eu vejo esse samba tão coeso que não consigo diferenciar verso de verso, nem melodia de melodia”, disse.

Ainda assim, ele reconhece um detalhe especial: o fato de a própria Mangueira, em estado de encantamento, narrar a epopeia, como previsto na sinopse.

O compositor conta que a reação da comunidade ao ouvir pela primeira vez a composição foi imediata.

“As primeiras pessoas que escutaram os primeiros versos e acordes se arrepiaram. Depois de pronto, foi aceito como um bálsamo, sem nenhum tipo de influência ou indução. Cumpre o enredo e transparece a verdade”, contou.

Ver a obra ecoando na avenida, para ele, será um momento de consagração.

“Imagino o povo, em especial o povo amapaense, cantando o nosso samba e, por meio dele, sendo cantado por milhares de vozes”, diz o artista.

Vencer a disputa significa, para Joãozinho Gomes, mais do que conquistar espaço em uma das escolas mais tradicionais do país.

“É entrar, ao lado dos meus parceiros, pela porta consagrada da Mangueira, definitivamente, no coração do povo amapaense, brasileiro e do mundo”, destacou.

Aos que vão entoar o Samba 15 na quadra e, quem sabe, na Marquês de Sapucaí, ele deixa um recado direto:

“Cantem alto, cantem forte. Afinal, o Samba 15 nada mais é do que um hino que contará, para sempre, a história de cada um de vocês.”

Compositor Joãozinho Gomes durante apresentação na semifinal

Quem é Joãozinho Gomes
Há mais de 30 anos radicado na cidade de Macapá, o poeta Joãozinho Gomes, reconhecido como um dos mais importantes poetas-letristas do atual cenário literário e musical brasileiro, ostenta uma obra que agrega parceiros — compositores e poetas — de várias regiões da Amazônia e de outras partes do Brasil.

A produção poética e musical consiste em centenas de canções e cerca de cinco livros. Não é raro encontrar músicas com versos do poeta em discografias de cantoras e cantores espalhados pelo país. Os poemas foram publicados na Revista Brasileira n° 84, da Academia Brasileira de Letras (ABL), e na Revista Acrobata.

Atualmente, é curador da Folia – Folia Literária Internacional do Amapá, promovida pelo governo do Estado, e membro do Conselho Editorial do Senado Federal.

Em 2024, lançou os livros Sendas de Ápacam e A Libido de Érato.

Em 2025, participou da 46ª edição da Flicoimbra – Feira Literária de Coimbra, em Portugal, um dos mais importantes eventos literários do universo lusófono. No mesmo ano, publicou Semelhanças Desiguais e prepara o lançamento de Cerne da Pedra.

 Ordem das apresentações:

 1. Samba 11 – Alexandre Naval, Wendel Uchoa, Ronie Machado, Giovani, Marquinho M. Moraes e Ailson Picanço

 2. Samba 15 – Pedro Terra, Tomaz Miranda, Joãozinho Gomes, Paulo César Feital, Herval Neto e Igor Leal

 3. Samba 105 – Francisco Lino, Hickaro Silva, Camila Lopes, Silmara Lobato e Bruno Costa

 4. Samba 103 – Verônica dos Tambores, Piedade Videira, Laura do Marabaixo, Antônio Neto, Clovis Junior e Marcelo Zona Sul

Conheça o Samba 15 

Finquei minha raiz
No extremo norte onde começa o meu país
As folhas secas me guiaram ao turé
Pintada em verde-e-rosa, jenipapo e urucum

Árvore-mulher, mangueira quase centenária
Uma nação incorporada
Herdeira quilombola, descendente palikur
Regateando o Amazonas no transe do caxixi
Corre água, jorra a vida do Oiapoque ao Jari

Çai erê, babalaô, mestre sacaca
Te invoco do meio do mundo pra dentro da mata
Salve o curandeiro, doutor da floresta

Preto velho, saravá
Macera folha, casca e erva
Engarrafa a cura, vem alumiar
Defuma folha, casca e erva... saravá
Negro na marcação do marabaixo

Firma o corpo no compasso
Com ladrões e ladainhas que ecoam dos porões
Ergo e consagro o meu manto
Às bençãos do Espírito Santo e São José de Macapá
Sou gira, batuque e dançadeira (areia)

A mão de couro do amassador (areia)
Encantaria de benzedeira que a amazônia negra eternizou
No barro, fruto e madeira, história viva de pé
Quilombo, favela e aldeia na fé

De Yá, benedita de oliveira, mãe do morro de mangueira
Ouça o canto do uirapuru
Yá, benedita de oliveira, benze o morro de mangueira
E abençoe o jeito tucuju
A magia do meu tambor te encantou no jequitibá
Chamei o povo daqui, juntei o povo de lá
Na Estação Primeira do Amapá

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ÁREA: Cultura