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FÉ E CULTURA

Amapá vive noite de fé, memória e resistência na Missa dos Quilombos durante o 30º Encontro dos Tambores

A programação integra as comemorações do 30º Encontro dos Tambores, realizado com o apoio do Governo do Amapá.

Por Leidiane Lamarão
21/11/2025 12h20
A celebração foi presidida pelo padre Paulo Mathias e sacerdotes de religiões de matriz africana

A noite de quinta-feira, 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, ficou marcada pela força da fé, pelas rezas, pela poesia dos cantos tradicionais e pela emoção que tomou conta do público durante a Missa dos Quilombos, realizada no Centro de Cultura Negra do Amapá Raimunda Ramos, em Macapá.

Um rito profundamente simbólico, unindo fé católica, tradições afro-amapaenses e a memória ancestral dos povos negros do estado, a programação integra as comemorações do 30º Encontro dos Tambores, realizado com o apoio do Governo do Amapá. A celebração presidida pelo padre Paulo Mathias e sacerdotes de religiões de matriz africana, relembrou a luta de Zumbi dos Palmares, cuja memória é celebrada nesta data.

Mas as homenagens da noite, também foram para recordar o legado de Raimundinha Ramos, que  foi uma militante pioneira na luta pela igualdade racial e inclusão social no Amapá. Uma das fundadoras da União dos Negros do Amapá (UNA), organização chave para a comunidade afrodescendente local.

Ela esteve à frente de iniciativas culturais importantes, como a organização da tradicional Missa dos Quilombos e do Encontro dos Tambores, eventos que celebram a herança e a cultura afro-amapaense.

Celebração reuniu centenas de pessoas

Criada a partir da mobilização da União dos Negros do Amapá (UNA), a Missa dos Quilombos nasceu como um ato de coragem e para garantir que a Igreja Católica reconhecesse as contribuições e os símbolos afro-culturais presentes na vida religiosa de milhares de amapaenses. Idealizada por Raimundinha Ramos, liderança histórica da UNA, a celebração tornou-se um marco de resistência e hoje é reconhecida como patrimônio imaterial do Amapá.

Durante a cerimônia, no momento da comunhão, a tradição se renovou com o gesto simbólico que distingue a Missa dos Quilombos. Em vez da hóstia consagrada, os fiéis receberam frutas colhidas nas próprias comunidades. É como se a terra, que sustentou gerações de ancestrais, abençoasse novamente seus descendentes.

Empreendedora Paula de Souza participou da missa dos Quilombos pela 1ª vez

A empreendedora Paula Souza participou pela 1ª vez da missa e disse que gostou bastante. “Eu sempre ouvi falar sobre a programação, mas é a primeira vez que eu participo, vim com alguns amigos e eu gostei bastante, é uma missa diferente das que eu participo na igreja, mas aqui, parece que tem uma energia diferente” declarou a empreendedora.

Emocionada, a técnica de enfermagem Caidma Chagas que já participa há anos do programa pela comunidade do Cunani, fala do sentimento da representatividade do evento para ela e toda a família.

Emocionada, a técnica de enfermagem Cádima Chagas disse que participa da celebração com a família todos os anos.

“Essa é uma missa muito significativa para mim, para a minha família e para todo o Amapá, que vem nessa luta de resistência. É um momento que a gente reúne toda a família, chega cedo para pegar um lugar, acomodar todos e acaba se transformando em uma grande confraternização, pois aqui, a gente reencontra amigos para juntos fortalecermos a nossa fé e pedir proteção. Então, a gente fica muito feliz pelo Governo do Estado dar esse apoio para que a missa dos quilombos os possa continuar acontece com toda essa grandiosidade e importância que realmente merece” destacou a profissional da saúde.

Mais do que um ritual religioso, a Missa dos Quilombos é um espaço de reflexão. Em cada canto entoado e em cada toque de tambor, ecoam as histórias de luta contra a escravidão, o racismo e a desigualdade. A celebração reafirma a necessidade de políticas públicas que garantam igualdade racial e respeito às tradições negras.

Neste ano, diversas comunidades participaram do evento com apoio logístico do Governo do Estado, que desde 2023 garante hospedagem e transporte para os grupos do interior. A presença dessas comunidades reforça ainda mais a dimensão coletiva e territorial da celebração.

A diretora-presidente da Fundação Marabaixo, Josilana Santos, destacou que o evento é, além de fé e tradição, é sinônimo resistência. 

“A missa dos quilombos é um momento esperado, é um momento de celebração onde as nossas raízes, nossa africanidade, nossa religião pode ser mostrada, transmitida e apresentada a toda a sociedade com o objetivo de quebrar preconceitos que levam ao racismo e à discriminação” pontou a presidente.

Coordenadora da UNA, Elizia Congó

A coordenadora da União dos Negros do Amapá (UNA), Elizia Congó falou sobre a celebração.

“É uma noite de muita emoção e memória. A Missa dos Quilombos é o momento em que reafirmamos quem somos e de onde viemos. Cada tambor tocado, cada fruta partilhada, cada banho de cheiro oferecido carrega a força dos nossos ancestrais. É um encontro de fé, mas também de luta e resistência. Seguimos de cabeça erguida, preservando nossa cultura e reivindicando respeito e igualdade”, enfatizou a coordenadora.

E foi sob o perfume forte e doce do banho de cheiro que a celebração se encerrou. Líquido de axé, preparado com folhas e ervas tradicionais, o banho foi borrifado sobre o público como sinal de proteção e renovação espiritual. Muitos fecharam os olhos, deixaram os ombros relaxar e receberam o gesto como quem reencontra forças para continuar a luta.

O 30° Encontro dos Tambores é um evento gratuito e segue até o dia 27 de novembro, no Centro de Cultura Negra Raimundinha Ramos, no bairro Laguinho, em Macapá. 

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