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'Eu remava três horas por dia para estudar', diz professora indígena formada pelo Governo do Amapá, no Parque do Tumucumaque

Marahepyny Waiana Tiriyó se formou na sexta-feira,1ª, na aldeia do Bona. Ao todo, são 46 educadores prontos para atuar.

Por Cássia Lima
02/12/2023 19h00

Profissionais poderão atuar em suas próprias aldeias lecionando em língua materna para alunos dos anos iniciais 

O Governo do Amapá reforçou as políticas de valorização e fortalecimento da educação indígena com a formatura de mais 46 professores do Programa Turé, na sexta-feira, 1ª, na aldeia do Bona, no Parque do Tumucumaque.  Os profissionais iniciaram a formação ainda em 2009, contudo, tiveram as atividades interrompidas por mais de 14 anos.

Em 2023, o Governo do Estado retomou o curso, com planejamento da Secretaria de Estado da Educação (Seed). Agora, os profissionais formados estão habilitados para atuarem em escolas como professores dos anos iniciais do ensino fundamental. A professora recém-formada Marahepyny Waiana Tiriyó, de 33 anos, da etnia Tiriyó, faz parte do grupo de recém-formados. Ela contou sobre os desafios enfrentados ao longo dos 14 anos de curso. 

“Eu remava três horas por dia para estudar e mais três para voltar para casa. É um desafio aprender a língua portuguesa, por isso estou tão emocionada em me formar e saber que vou poder ajudar as crianças da minha aldeia”, relatou Marahepyny.

Mais educadores indígenas

Em 2023, o Governo do Estado já formou 139 educadores indígenas. Além da aldeia do Bona, também foram atendidos indígenas das etnias Wajãpi e Tiriyó. A ação assegura aos povos originários a autonomia para se apropriarem dos seus processos de ensino e aprendizagem escolar, além da garantia do direito fundamental em lecionar na língua materna.

“Hoje é um dia especial que devolve aos indígenas o direito de aprender em sua própria língua materna, garantindo o direito básico legal, mas acima de tudo, respeitando a sua própria cultura”, destacou a secretária de Gestão de Pessoas da Seed, Simone Guedes.

O cronograma curricular inclui disciplinas de língua portuguesa, matemática, química, mas também aborda conhecimentos interculturais de estudos indígenas respeitando e valorizando a sabedoria dos povos originários do Brasil.

Atualmente, a Seed administra 54 escolas indígenas localizadas no Amapá e Norte do Pará, que funcionam no sistema regular e modular, atendendo mais de 4,6 mil estudantes.

Para o professor Marakarepo Apalai, de 35 anos, a formação atende a um anseio de décadas da população da terra indígena do Parque do Tumucumaque.

“Buscamos por anos a nossa formação como professores para termos equidade em concursos públicos dentro do nosso próprio território. Então, estamos muito felizes por esse sonho hoje ser realidade”, comemorou Marakerepo.

A formação somou esforços com o Instituto de Pesquisa e Formação Indígena (Iepe), Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), caixa escolares da região leste e oeste do parque, Secretaria Colegiada dos Povos Indígenas (SEPI) e Associação dos Povos Indígena Tiriyó, Kaxuyana e Txikuyana (Apitikatxi).

Investimento na Formação indígena

Em maio deste ano, o Governo do Estado já garantiu a formação de indígenas da etnia Wajãpi, no município de Pedra Branca do Amapari. Ao todo, 56 formandos foram habilitados para atuar como professores de séries da Educação Infantil e Ensino Fundamental de 1º ao 5º ano.

Nas escolas aonde não é possível ofertar o ensino regular, o Estado implanta o Sistema de Organização Modular de Ensino Indígena (Somei) em que o professor passa 40 dias na aldeia. Esse método é voltado para o 6º ano ao ensino médio.

O ensino modular atua nas Escolas Indígenas de três áreas do estado, localizadas nos municípios de Oiapoque, Pedra Branca do Amapari e na região do Parque Montanhas do Tumucumaque.

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