Agência de Notícias do Amapá
portal.ap.gov.br
Ferramenta de pesquisa
ÁREA DE GOVERNO
TAGS
LOCALIDADES
CONTEÚDO
PERÍODO
De
A
CULTURA

'O samba que fizemos fala do encontro do mestre sacaca com a força do universo', diz compositora finalista da disputa da Mangueira

Verônica dos Tambores, uma das autoras, conta como nasceu a inspiração, o processo criativo e a emoção de compor uma homenagem ao guardião da floresta negra.

Por Leidiane Lamarão
24/09/2025 12h25
Equipe de compositores do samba 103, Verônica dos Tambores, ao lado de Piedade Videira, Laura do Marabaixo, Antonio Neto, Clóvis Júnior e Marcelo Zona Sul

O palco da quadra da Estação Primeira de Mangueira recebe neste sábado, 27, a etapa decisiva da disputa de samba-enredo para o Carnaval 2026. Entre os finalistas está a amapaense Verônica dos Tambores, que compôs o samba 103 ao lado de Piedade Videira, Laura do Marabaixo, Antonio Neto, Clóvis Júnior e Marcelo Zona Sul, um dos dois vencedores da seletiva do concurso realizada no Amapá.

A compositora fala da inspiração por trás da obra que pode embalar o desfile da verde e rosa no próximo ano:

“Esse samba-enredo foi tirado do mais profundo do meu coração, num momento em que meu espírito estava mais conectado com a natureza”, revela Verônica.

Segundo ela, a letra nasceu de um sonho com o padrinho, Mestre Sacaca, falecido em 1999:

“Enquanto ele era velado, tive um sonho, e nesse sonho eu dizia: ‘Sacaca, eu escutei uma voz, era você sumindo entre nós’. Hoje, a Mangueira chama por Sacaca, e essa fala foi nossa grande inspiração. Por isso escolhemos o título: ‘Sacaca, eu escutei tua voz, era você, no meio de nós’”, destaca.

Durante o processo de criação, o samba passou por várias etapas até chegar ao formato apresentado na quadra:

“Cada palavra escrita, cada verso e refrão têm a permissão dele. O espírito do Sacaca está vivo, nos guiando para representar, da melhor forma possível, esse encontro do Guardião da Amazônia Negra com a força da natureza”, completa.

Ouvir a criação ecoar na quadra da Mangueira é, para Verônica, uma das maiores recompensas:

“É emocionante quando a bateria começa a tocar e o povo levanta. Nesse momento, o samba deixa de ser nosso e passa a ser da comunidade. É muito lindo. Peço a todos que torçam muito para que Ajuremou vença essa disputa”, finaliza.
 
Quem é Verônica dos Tambores

Verônica dos Tambores é o nome artístico de Maria Verônica da Silva, nascida em Mazagão, no Amapá. Em 2025, aos 66 anos, ela segue como uma das principais representantes da cultura popular do Amapá.

Filha de José Jorge da Silva, o Mestre Jorge, e de Euflorzina Nunes, a Tia Flor, Verônica é a quarta de 13 irmãos. Cresceu imersa nas tradições afro-amazônicas, especialmente o marabaixo e os festejos de São Tiago.

Com mais de quatro décadas de trajetória artística e cultural, a atuação sempre esteve marcada pela valorização da identidade negra, da ancestralidade e da história do povo amapaense.

Na década de 1990, criou o projeto Germinação, levando oficinas de história e dança do marabaixo para escolas de diferentes níveis de ensino. Também participou da produção do documentário "O Amapá de Hermano e Verônica dos Tambores", exibido na TV Educativa/TV Escola.

Como compositora, Verônica construiu um repertório autoral forte, profundamente ligado às raízes de Mazagão e do Amapá, com músicas que se tornaram referência, como:

  • Porta da Capela
  • Chamado
  • Perdão
  • Romaria
  • Batalha — esta última, dedicada ao pai

Lançou um CD demonstrativo e, em 2022, iniciou a produção de um álbum com músicas inéditas, aprovado em edital da Secretaria de Estado da Cultura do Amapá (Secult).

O estilo une poesia, tambores, fé e resistência, sendo reconhecida como uma das principais vozes femininas da cultura tradicional amapaense. Em 2025, segue ativa, se apresentando em grandes eventos culturais, como no encerramento da Central do Ciclo do Marabaixo, em Macapá, onde dividiu o palco com Dona Onete, fortalecendo a ponte entre o marabaixo e o carimbó.

A trajetória é celebrada como um marco de resistência cultural e de afirmação da identidade amapaense, consolidando Verônica dos Tambores como uma referência viva da música e da tradição popular brasileira.

Verônica dos Tambores, ao lado direito da estátua de Sacaca, é uma referência viva da música e da tradição popular brasileira

Conheça o samba 103

Sacaca, escutei tua voz. 

Era você. No meio de nós,
eu sou Mangueira. Na magia da floresta
a sabedoria que respeita a terra.
O vento sopra, o transe do pajé rompe a meia-noite.
É ritual. Ture, fumaça de tawari.
O xamã Babalaô, num gole de kaxixi, encantos revelou.
Maré me leva nas águas do Curipi,
de quem sempre esteve aqui: Waiapis e Caripunas pelo Jari, esperança em cada olhar.
Ribeirinho nunca deixa de sonhar entre os furos e buritis.

Risca o amapazeiro, põe a seiva na cachaça.
Cura o corpo, curandeiro. Benzedeira cura a alma!
Preto-velho “engarrafou” riquezas naturais.
“Caboco”, não se esqueça dos saberes ancestrais!

Bebericando gengibirra com o mestre,
“Mar abaixo”, “mar acima”, a gente segue.
Saia florida, “Sá Dona”, no Curiaú,
a fé “encruza” no “Em Canto” Tucujú.

“É de manhã, é de madrugada”,
“É de manhã, é de madrugada”,
couro de sucurijú no batuque envolvente.
Quilombola da Amazônia jamais se rende!

Eu vi... em cada oração, o corpo arrepiar,
bandeiras vibrando à luz do luar.
Tambores se encontram cantando em louvor.
Senti os sabores, aromas e cores
nas mãos que moldam nossos valores.
“Meu preto”, da mata és o griô!

Ajuremou, deixa a Juremar.
O samba é verde e rosa e guia meu caminhar.
Ajuremou, deixa Ajuremar.
Cuidado, chegou Mangueira, na ginga do Amapá.

Fique por dentro das notícias do Governo do Amapá no ==> Instagram e Facebook.
Siga o canal do Governo do Amapá no WhatsApp e receba notícias em primeira mão!

ÁREA: Cultura
TAGS: Carnaval