Artesão mantém viva tradição no Baile de Máscaras da Festa de São Tiago
A confecção das máscaras começa em maio e Elivaldo chega a fazer até cinco peças por dia.
Elivaldo Soares ensina o ofício aos filhos e espera que não deixem a tradição acabar.
Desde os 15 anos, o artesão Elivaldo Soares, de 56 anos, mantém viva uma tradição da Festa de São Tiago, que acontece todos os anos na Vila de Mazagão Velho, distante cerca de 70 km de Macapá. Ele trabalha confeccionando máscaras que serão usadas por brincantes durante o tradicional baile que acontece na noite do dia 24 de julho.
A confecção das peças inicia em maio e termina dias antes de iniciarem os festejos. É um trabalho todo manual, no qual são utilizados papel, goma de tapioca e uma forma de argila. “Chego a fazer até cinco peças por dia”, conta.
Ao todo, 200 máscaras estão prontas para serem comercializadas neste ano. Cada peça custa, em média, R$10. Ele explica que muitas pessoas já possuem suas próprias máscaras e outras costumam brincar com peças usadas em bailes de carnaval. “Mesmo assim, ainda há muita procura por máscaras, principalmente por pessoas que vem participar da festa e querem ir ao baile”, destacou.
As peças variam em modelos, mas sempre remetendo a uma criatura abominável.
O baile
A tradição conta que os cristãos, desconfiados em receber dos mouros comida de presente, decidiram dar parte do alimento – que estava envenenado - aos animais, que amanheceram mortos. Os mouros acharam que tinham conseguido envenenar os cristãos e ofereceram um baile de máscaras.
Para se vingarem, cristãos foram ao baile e envenenaram os mouros com a própria comida. O baile marca o fim do primeiro dia de encenação da Festa de São Tiago.
O ofício
Elivaldo Soares conta que aprendeu a confeccionar as máscaras sozinho. “A festa acontecia ao lado da casa da minha vó e a gente tinha medo de ver o baile das máscaras. Lembro que a gente fazia um buraco na parede de barro da casa e assistia o baile a noite toda”, lembra o artesão.
Hoje com mais de 40 anos dedicados ao trabalho, ele explica que na época, o baile era muito carente das peças e isso o motivou a aprender o oficio. “Percebi, naquela época, a pouca oferta das peças e disse pra mim mesmo que iria aprender a fazer as máscaras. Foi um trabalho difícil no começo, pois as peças grudavam no papel. Com o tempo peguei o jeito e hoje passo o que sei aos meus filhos”, destacou.
Ele espera que a tradição seja mantida. “A gente não é eterno e quando eu me for quero que eles continuem e não deixem essa cultura acabar”, concluiu.
Devoção
Além de confeccionar as máscaras, Elivaldo Soares é devoto de São Tiago já atuou durante a festividade. “Atualmente faço parte dos atiradores. Mas já fui bobo velho umas três vezes, já brinquei de mouro, de cristão, a gente busca manter viva essa cultura”, finalizou.
240ª Festa de São Tiago
A Festa de São Tiago é uma tradição trazida da África pelas famílias de colonos portugueses, em decorrência dos conflitos político-religiosos entre portugueses (cristãos) e muçulmanos (mouros).
Realizado desde 1777, na vila de Mazagão Velho, o evento consiste na encenação de um espetáculo de fé, que conta a história do guerreiro Tiago, soldado anônimo que lutou ao lado do povo de Cristo, ajudando a vencer as grandes batalhas contra os mouros.
A festividade em homenagem a São Tiago mistura rituais religiosos, cavalhada e teatro a céu aberto. É realizada pela comunidade local, através da Associação Cultural da Festa de São Tiago (ACFST), com apoio do Governo do Estado do Amapá e Prefeitura de Mazagão.
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